terça-feira, 21 de setembro de 2010

Uma parábola sobre o céu e o inferno

O poeta na floresta
Minha amiga Poliana Martins enviou-me esta estória que ela acha ser de Robert B. Dilts, mas não tem certeza. Independente de ser ou não dele, é muito boa, e a adaptei para o blog. Obrigado Poliana!

Conta-se que um poeta estava um dia passeando em uma floresta, quando de repente surgiu diante dele o maior dos poetas romanos, Virgílio. 

Virgílio diz ao apavorado poeta que o destino havia sorrido para ele, pois tinha sido escolhido para conhecer os segredos do Céu e do Inferno. O poeta, apavorado, mas curioso, concorda. Virgílio, então, leva-o primeiramente ao inferno.

Retrato de Virgílio por
Botticelli
Quando chegaram, o poeta ficou surpreso por encontrar um lugar semelhante à floresta onde estavam, e não feito de fogo e enxofre, nem infestado de demônios alados e criaturas nojentas exalando fogo, como ele esperava.

Virgílio conduziu o poeta por uma trilha. Quando se aproximavam de um aglomerado de rochas cobertas de arbustos, o poeta sentiu o cheiro de um delicioso ensopado. Junto com o cheiro, entretanto, vinham misteriosos sons de lamentações e ranger de dentes. 
Virgílio e o poeta com um guia

Ao contornar as rochas, deparou-se com uma estranha cena. Havia uma grande clareira com muitas mesas grandes e redondas. No meio de cada mesa havia uma enorme panela contendo o ensopado cujo cheiro agradável o poeta sentira, e cada mesa estava cercada de pessoas muito magras e famintas. Cada pessoa segurava uma colher com a qual tentava comer o ensopado. O cabo das colheres, entretanto, era duas vezes mais comprido do que os braços das pessoas que as usavam. Devido a isto e ao tamanho da mesa, as pessoas não conseguiam colocar a comida na boca. Havia muita revolta e imprecações enquanto cada pessoa tentava desesperadamente pegar, sem conseguir, pelo menos uma gota do ensopado.

O poeta ficou muito abalado com a terrível cena e suplicou a Virgílio que o tirasse dali. Virgílio, então, transportou-se com ele ao Céu.  Quando chegaram, o poeta surpreendeu-se novamente ao ver uma cena que não correspondia às suas expectativas. Aquele lugar era muito semelhante ao que eles tinham acabado de deixar. Não havia grandes portões de pérolas, nem bandos de anjos a cantar. Novamente Virgílio conduziu-o por uma trilha aonde um delicioso cheiro de comida vinha de trás de rochas e arbustos.

Desta vez, entretanto, o poeta ouviu cantos e risadas ao se aproximaram. Quando contornarem a barreira, ficou muito surpreso por encontrar um quadro quase idêntico ao que eles tinham acabado de deixar: grandes mesas cercadas por pessoas com colheres de cabos desproporcionais e uma grande panela de ensopado no centro de cada mesa. A única e essencial diferença entre aquele grupo de pessoas e o que eles tinham acabado de deixar, era que as pessoas neste grupo estavam usando suas colheres para alimentar uns aos outros.

Esta é, da minha experiência de vida, a grande diferença. O céu e o inferno derivam de atitudes mentais nossas. Fortes evidências a partir de experimentos da Psicologia Cognitiva e das Neurociências indicam que não são os eventos exteriores que nos traumatizam ou nos fazem felizes, mas sim a maneira como os encaramos, como os processamos em nossa mente. E a maneira como processamos estes eventos tem muito a ver com as crenças saudáveis ou não que temos sobre nós mesmos, os outros e o mundo em geral. 

Felizmente, podemos mudar crenças rígidas, preconceituosas e pessimistas em crenças mais saudáveis. Há vários caminhos para isto. A própria Vida nos apresenta inúmeras oportunidades para este aprendizado. Nem sempre conseguimos fazer isto sozinhos, mas, se tivermos "olhos para ver", perceberemos pessoas que podem nos ajudar nestes sentido. E até animais podem ser nossos guias! Quantas vezes tenho visto pessoas com depressão sairem dela ao adotarem e cuidarem de um cão...

Mas, fundamentalmente, lembrar que não estamos sozinhos, que, como diz a bela canção de Tom Jobim (Wave) "é impossível ser feliz sozinho", reafirmando o caminho da felicidade (o Reino dos Céus) iluminado por Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Este é o maior e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas”. (Mt 22, 34-40). Neste sentido, veja, por exemplo, as postagens posteriores Caridade e RedençãoReflexões sobre o Perdão.

Veja também outras contribuições de Poliana a este blog: "No Reino das Borboletas" e "Pensando por Si Mesmo!"

2 comentários:

  1. A primeira vez que ouvi esta estória foi aos 16 anos e desde então eu nunca mais a esqueci.

    Gosto desta estória porque é justa; o céu e o inferno são exatamente iguais. Dando-nos a idéia de que Deus esta além das questões materiais e humanas.

    Além disso, nos estimula a um despertar da consciência, buscando uma nova conduta para os problemas e dificuldades.

    Poliana.

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  2. Concordo com você, POliana. São estas também as razões pelas quais gosto desta estória.
    Abs,
    Leonel

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