segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Como Fechar as Gestalts Abertas?

(Continuação de postagem anterior: "Nossas Gestalts Abertas")


       O primeiro passo é sabermos quais são estas gestalts "abertas", isto é, as coisas não resolvidas na nossa vida. Uma boa maneira de fazermos isto é relacionarmos num papel todos os sonhos, projetos, atividades que iniciamos ou pensamos em realizar e que nem abandonamos, nem nos organizamos de fato para realizá-los. Ou seja, tudo aquilo em que ficamos no “não chove nem molha” em nossa vida.
       O segundo passo é examinarmos estas gestalts abertas e darmos uma prioridade a cada uma: quais as mais urgentes (aquelas que têm que ser feitas o quanto antes)? Quais as mais importantes (aquelas coisas que, se bem realizadas, farão uma diferença substancial para nossa vida ou de pessoas que são importantes para nós)? Considerando a urgência e a importância, podemos dar uma prioridade a cada item que listamos, numerando-os em ordem crescente: 1 para o mais prioritário, 2 para o 2o em prioridade, 3 para o 3o e assim por diante.
       O terceiro passo é fechar estas gestalts começando pela prioridade 1 e continuar até o último item da lista. Há quatro maneiras básicas para fazer isto: 
       1)    A primeira é a mais óbvia – fazer: concluirmos já a atividade iniciada, começarmos já a realizar o projeto ou o sonho. No exemplo da academia de ginástica, significa, em 1o lugar, fazermos, de preferência no mesmo dia, nossa reinscrição na academia de ginástica, com o compromisso firme (conosco mesmos) de iniciarmos e concluirmos um programa de ginástica que nos leve à boa forma com que sonhamos. Contudo, não basta apenas nosso compromisso, precisamos também nos organizar para que este compromisso realmente se realize: estabelecer horários e dias da semana em que freqüentaremos a academia. E começar...!
       2)    A segunda maneira é renunciarmos, clara e conscientemente, à realização da atividade ou projeto em aberto. Em outras palavras, colocarmos um ponto final, como se disséssemos para nós mesmos, com determinação – “este projeto ou sonho perdeu sua razão de ser (ou é inviável para mim), portanto renuncio a sua conclusão de maneira definitiva”. E tirarmos definitivamente esta idéia da cabeça. Por exemplo, uma casa de campo que sonhamos construir: podemos chegar à conclusão que diante de várias outras prioridades que temos na vida, não tem mais sentido este projeto – o custo de construir a casa de campo e o custo de mantê-la o torna inviável.
       3)    A terceira maneira é programarmos, com data marcada, de maneira clara e consciente, comprometidos conosco mesmos, a realização da atividade ou projeto em aberto: “não posso realizar esta atividade ou projeto agora, mas me comprometo, comigo mesmo, a realizá-lo (ou iniciá-lo) na data X”. Todos sabemos o perigo de, na data X, “esquecermos”, ou não “termos tempo” para realizar nosso compromisso. Por isto, aqui também não basta apenas o compromisso, mas é preciso nos organizarmos desde já para que, na data X, possamos cumprir nosso compromisso.
       4)    A quarta maneira é delegar, ou transferir para outro a realização da atividade ou projeto. Este outro pode ser, por exemplo, um amigo, um colaborador, um médico, um  psicoterapeuta. A delegação bem sucedida engloba, de certa forma, as maneiras anteriores de fechar gestalts. Por exemplo, a arrumação do “quarto de despejo” (pode ser o sótão, ou o porão em nossa casa, no qual foi sendo despejado um monte de coisa, algumas que podem ser aproveitadas e outras para as quais o lixo é o melhor destino). Ou do nosso "quarto de despejo interior":
            - Precisamos estar comprometidos realmente em fazer esta arrumação, "fechar" esta gestalt. Caso contrário, delegar para alguém será apenas “passar o abacaxi”. Já vi pessoas fazendo terapia achando que o simples fato de ir às sessões é suficiente para resolver os problemas que foi tratar. É claro que as coisas não funcionam deste jeito. O comprometimento ativo, buscando praticar seus insights e as recomendações do terapeuta é fundamental. É fundamental, portanto, estarmos conscientes da urgência e importância da arrumação do nosso "quarto de despejo", que já está atraindo baratas e outros insetos (reais e metafóricos...):
            - E é claro, assegurar que a pessoa para quem transferimos esta arrumação tenha a competência necessária e esteja também comprometida em realizá-la da melhor forma possível.
            - E organizar as coisas para que ambos, você e esta pessoa realmente cumpram seus compromissos, combinando condições como datas e horários para esta "arrumação" e a sua conclusão, pagamentos etc.
            - Para algumas tarefas, é melhor renunciarmos a realizar pessoalmente, senão ficaremos interferindo no trabalho da pessoa e perderemos o tempo que queríamos economizar. Mas, é claro que algum esquema de acompanhamento é imprescindível, para não haver surpresas.
            - Em outros casos, como na arrumação do nosso "quarto de despejo interior", a "delegação" é, de fato, um processo de colaboração cliente-terapeuta, no qual este age como um facilitador da nossa arrumação interior, ajudando-nos a mobilizar nossas melhores forças (físicas, emocionais, intelectuais e espirituais) nesta tarefa.
       À medida que fechamos nossas gestalts abertas, vamos nos sentindo mais livres e com mais energia e disposição. Tomar decisões fica cada vez mais fácil e as atividades se desenvolvem com maior fluidez e resultados. Arrumamos nossa bagunça, nosso “quarto de despejo". E, assim, temos mais tempo e energia disponível para o que é realmente urgente e importante em nossa vida.
     

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Nossas Gestalts Abertas

       Não tenho tempo para nada! Como vou arranjar tempo para fazer isto? Estou esgotado! Estou estressado! Estas queixas e outras semelhantes parecem familiares a você? São comuns a muitas pessoas hoje em dia.
       Utilizar produtivamente nosso tempo é um problema para a maioria de nós: trabalho, família, estudo, vida social, esporte, lazer, cidadania e outras áreas de atividades requisitam continuamente nosso tempo. Às vezes nos parece que as 24 horas do dia não são suficientes para fazermos tudo o que necessitamos. E isto nos esgota.
       Por vezes, iniciamos várias atividades e, por alguma razão, não as conseguimos concluir. Nos sentimos amarrados, sem produtividade. Estamos aparentemente fazendo muitas coisas, mas o resultado é frustrante... E nos sentimos esgotados, sem energia.
A Psicologia da Gestalt pode nos ajudar, de forma simples e intuitiva, a compreender porque isto acontece e como podemos ser mais produtivos sem nos cansarmos tanto.
        Gestalt (pronuncia-se guestalt) é uma palavra de origem alemã que pode ser traduzida aproximadamente como figura, forma ou aparência. A Psicologia da Gestalt enfoca leis mentais - princípios que determinam a maneira como percebemos as coisas.
Podemos ter uma compreensão intuitiva de uma das leis básicas da Gestalt - a lei da completude ou fechamento - por meio da figura ao lado. Ela é
normalmente vista como um triângulo branco com as pontas apoiadas em três círculos negros. Mas, não há de fato este triângulo branco, ele é produto da tendência de nossa mente a criar padrões, "completar" o que nossa mente acha estar incompleto. Esta lei da Gestalt é chamada de Lei da Completude ou  do Fechamento.
       Segundo ela,  tendemos, inconscientemente, a fechar gestalts  abertas, isto é, a concluir ou fechar figuras ou objetos que achamos que estão incompletos. Isto vale não apenas para formas visuais, mas também para ações e outras coisas que percebemos como incompletas. Nossa mente percebe nossos projetos e ações iniciados, mas não completados, como formas abertas incompletas que necessitam ser "fechadas" ou completadas. E aloca continuamente energia para os "fecharmos", isto é, concluirmos.
       Um exemplo: vamos imaginar que, querendo ficar em forma, perder a barriga e ganhar músculos, nos inscrevemos numa academia de ginástica. Começamos com entusiasmo e depois, por falta de vontade ou “falta de tempo”, vamos espaçando as vezes que a freqüentamos, até pararmos. Contudo, não abandonamos o nosso sonho de ficar em forma, “justificando” para nós mesmos e para os outros que, quando tivermos tempo, voltaremos a freqüentar a academia e ficaremos em ótima forma! Este sonho ou projeto de ficar em forma, enquanto não concluído ou claramente abandonado, é uma gestalt aberta que nos puxa energia.
       Se além desta gestalt aberta, tivermos muitas outras, como por exemplo, o curso de inglês que queremos fazer, mas protelamos, a viagem com que sonhamos continuamente e nunca nos mobilizamos de fato para realizá-la, a construção de uma casa de campo, a reorganização dos arquivos do escritório ou a arrumação do “quarto de despejo” (“qualquer dia destes eu dou um jeito nisto”), nosso nível de energia pessoal disponível diminui. Isto porque cada gestalt aberta nos requisita continuamente energia para fechá-la.
       Quanto mais gestalts abertas tivermos, menos energia psíquica teremos disponível, causando aquela sensação de cansaço, stress, dificuldade de tomar decisões. Na próxima postagem, "Como Fechar Nossas Gestalts Abertas?", sugerirei maneiras de "fechar" essas gestalts.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Há Anjos Entre Nós


     Um homem sussurrou: - Deus, fale comigo! 
     E um rouxinol começou a cantar, mas o homem não ouviu.
     Então o homem repetiu: - Deus, fale comigo!
     E um trovão ecoou nos céus, mas o homem foi incapaz de ouvir.
     O homem olhou em volta e disse: - Deus, deixe-me vê-lo!
     E uma estrela brilhou no céu, mas o homem não a notou.
     O homem começou a gritar: - Deus, mostre-me um milagre!
     E uma criança nasceu, mas o homem não sentiu o pulsar da vida.
     Então o homem começou a chorar e a se desesperar:
     - Deus, toque-me e deixe-me sentir que você está aqui comigo...
     E uma borboleta pousou suavemente em seu ombro.
     O homem espantou a borboleta com a mão e desiludido
     Continuou o seu caminho triste, sozinho e com medo.”
     (do livro “By San Etioy” - tradução e adaptação de uma prece dos índios Cherokees).

     Deus fala conosco de várias formas, pelos fenômenos naturais, pelos animais, acontecimentos da vida e pessoas. Para ouvi-lo, precisamos estar receptivos em nosso coração, pois "só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos", lembra-nos Saint-Exupéry1.

     Você já parou para contemplar o brilho das gotas da chuva nas folhas das árvores ou na grama, ao cair da tarde? Parecem gotas de ouro, ou de brilhante líquido! Ou olhou de verdade para um jardim florido, observando cada detalhe, percebendo os mil brilhos e nuances coloridos das flores e do verde, impossíveis de serem reproduzidas artificialmente e que, se você se estiver tranqüilo e receptivo para isto, parecem inundar a sua alma?

     Estarmos em sintonia com Deus é estarmos receptivos para ouvir essas mensagens divinas que nos vem através das pessoas, das crianças, do céu, do cheiro de terra molhada pela chuva e até, por exemplo, das pequenas plantinhas que nascem nas fendas das calçadas. A despeito do sol inclemente sobre elas, das pisadas descuidadas dos passantes, de todos os fatores que podem matá-las, elas crescem, às vezes morrem, mas renascem! Esta força vital que as impulsiona é a Chama Divina que há também em nós e impulsiona constantemente (se permitirmos, se estivermos receptivos a Ela) para crescermos, evoluirmos, realizarmos nosso potencial, nossa felicidade!

     Experimente sorrir para um bebê, uma criança, e verá que ela espontaneamente lhe devolverá um belo sorriso como resposta. Por vezes, em momentos em que estamos angustiados ou preocupados, este sorriso parece vir para nós como uma lufada de ar fresco num ambiente abafado e poluído.

     Em algumas ocasiões, quando estamos ansiosos com um problema, o simples fato de alguém nos ouvir com simpatia e interesse pode nos aliviar, dando-nos forças para enfrentá-lo. Em outras ocasiões, um sorriso de simpatia ou uma palavra amiga, tranqüila e equilibrada, pode ser decisiva para nos ajudar a reencontrar nosso eixo interior e, assim, tomarmos uma melhor decisão frente ao problema que nos angustia. Nestes momentos, Deus está falando conosco através de seus mensageiros ocasionais. Não significa que estas pessoas que nos ajudam nestas ocasiões aflitivas sejam santos. Possivelmente têm muitos problemas e defeitos, como nós. Mas, naquele exato momento foram, para nós, mensageiros divinos, anjos2, portanto.

     Cada um de nós, também, com palavras, sorrisos, gestos, ou mesmo apenas ouvindo com empatia, pode ajudar alguém que está necessitando, em algumas ocasiões. Para isto, basta estarmos sensíveis aos nossos próximos, mas também equilibrados, para ajudarmos sensatamente, com empatia, ou seja, sem nos envolvermos, para que assim contribuamos de fato para a pessoa encontrar uma boa solução ao seu problema e não o piorarmos. Nestas ocasiões, estaremos atuando para essas pessoas como anjos, mensageiros divinos.

     Deus está em todas as coisas e pessoas e em nós mesmos. Na Índia, há um cumprimento que as pessoas fazem-se umas às outras, o “namastê”, que consiste em se colocar as mãos postas como numa oração, próximas ao peito e inclinar a cabeça para a outra pessoa. Ao fazer isto, a pessoa que cumprimenta está reverenciando o Deus interno que está na outra pessoa, como está em cada um de nós.
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1 Antoine de Saint-Exupéry, nascido em Lyon, França, em 29/06/1900 e falecido em 1944 (local ignorado). Aviador por profissão e escritor por paixão, é considerado um dos grandes ficcionistas franceses do século XX. Foi um dos pioneiros da aviação comercial francesa, tendo organizado as linhas da Patagônia e empreendido vôos de Paris à Saigon e de New York à Terra do Fogo, numa época em que voar, principalmente para locais distantes, era um feito heróico. Atuou de maneira intensa durante a 2ª Guerra Mundial, unindo-se à aviação Aliada em 1942. Seu livro mais conhecido é “O Pequeno Príncipe”, de onde vem a frase citada neste artigo.
2 Anjo: do Latim Eclesiástico ângelus, derivado do Grego Antigo άγγελος (ángelos): mensageiro.

Atualização de Cultura, por Deolindo Amorim

Este lúcido texto do jornalista, escritor e conferencista espírita brasileiro,   Deolindo Amorim (1906 - 1984), publicado no Anuário Espír...