sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Simpósio Internacional Explorando as Fronteiras da Relação Mente-Cérebro

        A 1a. conferência do Simpósio foi "Ciência e Mente: análise empírica e filosófica do cartesianismo e do materialismo reducionista", apresentada por Robet Almeder, PhD (EUA), Prof. Emérito de Filosofia na Georgia State University.
       Almeder discutiu a oposição "materialismo reducionista" ao "dualismo cartesiano". O primeiro refere-se ao paradigma materialista predominante na comunidade científica atual, que poderia ser chamado de materialismo eliminativo, pois elimina qualquer possibilidade de que algo não material possa existir. O segundo, à posição de Descartes sobre a natureza dualista do homem: corpo e espírito.
       Almeder indica as cinco críticas principais ao dualismo cartesiano:
  1. Não é empiricamente testável ou confirmável.
  2. É, em princípio, testável e confirmável, mas não há evidências suficientes que o confirmem.
  3. É testável e confirmável, foi testado e refutado.
  4. É desnecessário como explicação.
  5. Não pode servir para explicar qualquer coisa.
       A 1a. crítica parece provir de uma concepção muito estreita da Ciência, pois há sim formas possíveis de se testar o dualismo que serão discutidas a partir do item 2. Esta posição parece não levar em consideração a natureza dinâmica e evolutiva da ciência.
       A 2a. crítica parte de uma posição mais flexível, pois leva em consideração evidências bem documentadas, como relatos empiricamente confirmados de crianças que parecem se recordar de uma encarnação anterior (vejam, p. ex., os vídeos neste blog: "Impressionantes evidências de uma possível encarnação anterior - parte 1 e parte 2", o vídeo produzido pelo Discovery Channel e a reportagem no Fantástico sobre reencarnação). Contudo, a posição dos que a defendem é de que apenas algumas pessoas parecem se recordar de vidas anteriores. Se existisse mesmo reencarnação, todos se lembrariam... Parece claro que esta objeção parte de uma visão superficial do fenômeno que se quer analisar. 
       Se físicos  como Einstein assumissem posições tão rígidas perante os fenômenos naturais, talvez ainda estivéssemos estudando apenas a física de Newton. Esta posição lembra a lenda grega de Procusto que assaltava os viajantes e os amarrava num leito de ferro que tinha seu tamanho exato. Se fossem menores do que o leito, esticava-os com um mecanismo de cordas até que atingissem o tamanho "certo". Se fossem maiores do que o leito, cortava-lhes um pedaço para se adequarem... Assim parecem fazer alguns pesquisadores com os fatos, procurando adaptá-los às suas concepções e não, como deveriam, estas aos fatos.
       A 3a. crítica é ainda mais rígida na sua tentativa de adequar os fatos ao leito de Procusto de uma concepção demasiadamente estreita da ciência. Pressupõe que a idéia do espírito foi já refutada pela ciência. Mostra ignorância e/ou puro preconceito.
       A 4a. crítica lembra a atitude do brilhante matemático francês, Laplace, que presenteou Napoleão com a "Mecânica Celeste", sua obra prima, e quando o imperador surpreendeu-se por não ter encontrado na obra qualquer menção  a Deus, Laplace respondeu: "Majestade, não tenho necessidade desta hipótese." (do livro de Marcelo Gleiser, "Criação Imperfeita", p. 94. Rio de Janeiro: Record, 2010). A resposta de Laplace refletia a autoconfiança excessiva dos cientistas do século XIX, muitos pensando (e afirmando) que havia apenas detalhes a serem ainda descobertos pelo homem sobre o Universo. 
       Passados mais de cem anos, o conhecimento científico tendo crescido exponencialmente deste aquela época, muitos cientistas de ponta estão muito mais humildes, mais próximos do que disse Newton pouco antes de morrer: "Não sei como apareço aos olhos do mundo; aos meus próprios, pareço ter sido apenas como um menino, brincando na praia, e divetindo-me em encontrar de vez em quando um seixo mais roliço ou uma concha mais bela que de ordinário, enquanto o grande oceano da verdade jazia todo inexplorado à minha frente." (http://efisica.if.usp.br/mecanica/curioso/historia/newton/).
       A 5a. crítica parece ser o ápice do preconceito dogmático e não merece, a meu ver, maiores discussões.
       Devo confessar que o escrevi acima reflete apenas parcialmente o que Almeder falou na conferência, por três razões principais: (1) esta foi um pouco truncada, tendo o conferencista cortado algumas partes do que planejara falar, para se adequar ao tempo, o que dificultou um pouco o entendimento; (2) a tradução simultânea por vezes não conseguiu acompanhá-lo e, em algumas ocasiões foi algo imperfeita (e meu ouvido também está imperfeito,  "enferrujado" para o inglês falado); e (3) Almeder não se posicionou claramente sobre o tema, ficando mais "em cima do muro". Desta forma, embora muitos dos argumentos acima sejam do conferencista, as citações e conclusões são mais minhas, pois o percebi relutante em tomar posições mais definidas.

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