domingo, 26 de setembro de 2010

Simp. Inter. Explorando as Fronteiras da Relação Mente-Cérebro - 25/09/2010

Conferência: "O CÉREBRO, A MENTE E AS EXPERIÊNCIAS TRANCENDENTES".


Esta foi, para mim, uma das conferências mais interessantes do simpósio. O conferencista foi o canadense Mário Beauregard, MD, PhD, Professor Associado de Pesquisa da Universidade de Montreal (Departamento de Psicologia e Radiologia, e Centro de Pesquisa em Neurociência). Vou resumir alguns pontos da conferência. Numa segunda postagem contarei mais.


Pressupostos Materialistas

Ele começa expondo os pressupostos materialistas assumidos por grande parte da comunidade científica, como por exemplo: "Tudo no Universo pode ser explicado em termos de partículas elementares e forças físicas."


Outros pressupostos:

  • Reducionismo: a causação só se dá do mais simples para o mais complexo. Isto é, o todo não influencia a parte e sim esta àquele. Por isto, para entender qualquer fenômeno, temos que analisá-lo a partir dos seus componentes mais elementares. Assim, para entendermos a mente, basta estudarmos o cérebro em seus neurônios e componentes ainda mais básicos. Entendendo como estes funcionam, seremos capazes de explicar funcionamento do cérebro e, portanto, da mente.
  • Determinismo: os estados futuros podem ser previstos através da análise dos estados atuais. Ou seja, o pressuposto mecanicista expresso por Laplace (o matemático francês do sec. XIX, Pierre Simon de Laplace) do universo-relógio. Laplace afirmava que se pudéssemos conhecer a posição e a velocidade de todas as partículas do universo em um determinado instante, seríamos capazes de prever o futuro de tudo o que existe, inclusive o das pessoas e todos os detalhes da de suas vidas (citado por Marcelo Gleiser no seu livro "Criação Imperfeita" - Rio de Janeiro: Record, 2010). Este pressuposto torna o livre-arbítrio uma ilusão: não passaríamos de robôs biológicos pré-programados que têm uma ilusão de que são livres.
  • Localismo: Tudo interage apenas com o que está mais próximo. Não há ação à distância. Ou seja, a mente não atua fora do corpo. Telepatia, clarividência e outros fenômenos do tipo são ilusões. E, é claro, morreu, acabou. A mente só funciona com o cérebro. 
Outro pressuposto é que a mente não passaria de um epifenômeno do cérebro, sito é, um subproduto do funcionamento cerebral.


Uma outra posição materialista é de que os estados mentais são idênticos aos estados cerebrais. Explicando estes, explicaremos automaticamente a mente. (Veja sobre outras críticas aos pressupostos materialistas em "Porque o Materialismo é Metafísica e não uma Teoria Científica" - Parte 1 e Parte 2, ambas postadas em 15/10/2010).


Evidências Experimentais que Parecem Falsear os Pressupostos Materialistas Reducionistas e Deterministas


Experimento com Jovens Adultos

Beauregard conduziu uma experiência mapeando o cérebro (através de ressonância magnética funcional) de homens jovens adultos para verificar a possibilidade do controle mental  consciente sobre instintos básicos, visando verificar o pressuposto determinista de que somos apenas robôs biológicos.


Na 1a. etapa do experimento, os sujeitos assistiam uma sequência de slides eróticos, o que tende a ativar áreas do sistema límbico do cérebro (o chamado "cérebro emocional"), ligadas ao processamento das emoções e impulsos sexuais. E foi o que aconteceu.


Na 2a. etapa, orientou os jovens para que se separassem das suas emoções, evitando se identificar com elas, apenas as observando, um processo utilizado em meditações orientais (Budismo e Zen Budismo) denominado "mind fulness" (traduzível para o português como "atenção plena"). Monges budistas meditam milhares de horas, desenvolvendo assim a habilidade da atenção plena. No caso, os sujeitos receberam, para esta 2a. etapa, apenas um brevíssimo treinamento de meia hora em atenção plena. Contudo, quando se submeteram novamente à sessão de slides eróticos numa atitude de atenção plena, a ativação do sistema límbico desapareceu...


Experimento com Placebo em Pacientes com Parkison

Há evidências de que a deterioração dos receptores do neurotransmissor dopamina que ocorre no paciente com Parkison tem papel importante nos sintomas e desenvolvimento desta doença. Neste experimento, recrutou-se pacientes voluntários com Parkinson que já haviam perdido cerca de 80% dos receptores de dopamina. Deu-se a eles um placebo (uma simulação neutra de remédio, sem qualquer efeito). Os pacientes acreditavam estar tomando uma nova e poderosa medicação para sua doença.

Após tomarem o placebo, verificou-se que os pacientes, em média, começaram a liberar dopamina num nível equivalente a jovens adultos saudáveis. Além disto, vários sintomas do Parkinson foram revertidos...

Algumas Conclusões

Os experimentos descritos acima, além de vários outros, indicam que crenças, pensamentos, foco da atenção, desejos, percepções das pessoas podem modificar significativamente o funcionamento do sistema nervoso autônomo, sistema endócrino e sistema imunológico. E há evidências que sugerem a possibilidade de modificações também na expressão dos genes, ou seja, a ativação ou desligamento de deteminados genes do genoma humano, com consequentes modificações permanentes no organismo. Contudo, há necessidade de mais estudos neste sentido.


Em suma, as evidências experimentais acima e várias outras apresentadas na conferência ou mencionadas nas referências parecem falsear (tornar falso) os pressupostos materialistas

  1. que efeitos na mente devem-se apenas a causas orgânicas e que a mente não tem efeito significativo no funcionamento orgânico;
  2. que apenas temos ilusão de livre-arbítrio, pois o nosso comportamento é pré-determinado (a idéia do robô orgânico);
  3. que a mente é um epifenômeno do cérebro;
  4. que os estados mentais são idênticos aos estados cerebrais.


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