sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Congresso Internacional de Educação e Espiritualidade - 3o. dia

A 1a palestra da manhã, “Aspectos filosóficos e psicológicos da Educação Espírita”, foi do Dr. André Luiz Peixinho, da UFBA - Universidade Federal da Bahia, médico, psicólogo e filósofo, presidente da Federação Espírita do Estado da Bahia, entre outros títulos. O conteúdo consistente de sua palestra, além de sua fluência e bom humor, tornaram-na proveitosa e agradável.


Destaco uma das passagens que me ficaram bem gravadas. O Dr. Peixinho estava numa reunião com intelectuais espíritas, quando um deles lhe perguntou: “Kardec está superado?”. Sua resposta foi: “Infelizmente não”. Com isto, comentou, desagradou a todos: com o “não”, aos que eram da opinião de que Kardec estava superado e esperavam que ele os apoiasse, e com o “infelizmente”, aos que encavavam dogmaticamente seus escritos. Explicou o “infelizmente”: a proposta de Kardec é dinâmica, não estática e dogmática, e passados 150 anos ainda não produzimos nada para fazer progredir o Espiritismo, como deveríamos.


Concordo com o Dr. Peixinho quando ele aponta que muitos espíritas mitificam Kardec, apegando-se dogmaticamente ao que ele escreveu, em contradição com o próprio Kardec. Em “Obras Póstumas”, Kardec reitera a advertência que já havia feito claramente na “A Gênese” (cap. I - Caracteres da Revelação Espírita, item 16). O 3o. de três pontos que enfatiza em “Obras Póstumas” (“Constituição do Espiritismo: Exposição de motivos“ - II. Dos cismas) como necessários para que o Espiritismo não se perca em cismas é o “caráter essencialmente progressivo da Doutrina”. Prossegue dizendo (na tradução de João Teixeira de Paula - 12a edição - São Paulo: Lake, 1998) que “por ela se não dever embalar por sonhos irrealizáveis, não se segue que se imobilize. Apoiada, exclusivamente, em leis naturais, não pode ser mais variável que estas leis, mas se uma nova lei for descoberta, deve modificar-se para harmonizar-se com ela; não deve cerrar a porta a nenhum progresso sob pena de suicídio. Assimilando todas as idéias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas, nunca será posto à margem e é esta uma das principais garantias da sua perpetuidade.” (Os negritos são meus).


Mas discordo quando ele diz não haver progressos a partir de Kardec. No plano espiritual, por exemplo, as obras de André Luiz clareiam e avançam significativamente a partir de pontos que Kardec havia delineado. A meu ver, o Espiritismo após André Luiz mudou, avançou, mas permanece fiel aos seus reais fundamentos.


E no plano dos escritores encarnados, parece ter havido também avanços. É o caso, p. ex., da “A Teoria Corpuscular do Espírito”, de Hernani Guimarães Andrade, posteriormente detalhada na trilogia “Psi Quântico: uma extensão dos conceitos quânticos e atômicos à idéia do Espírito”, “Espírito, Perispírito e Alma: ensaio sobre o modelo organizador biológico” e “Morte, Renascimento e Evolução: uma biologia transcendental”, todos reeditados recentemente pela Casa Editora Espírita “Pierre-Paul Didier” de Votuporanga. São conceitos ousados de um intelectual espírita que militou muitos anos no movimento espírita brasileiro e escreveu em vários dos principais jornais e revistas espíritas. Mas, não é do meu conhecimento qualquer declaração formal de autoridades do movimento espírita a favor ou contra as idéias do Dr. Guimarães. Nem estudos ou experimentos sistemáticos para corroborar ou refutar suas idéias.


E vários outros, inclusive, no plano espiritual, Joanna de Ângelis, pela mediunidade de Divaldo Franco, busca compatibilizar do Espiritismo com a Psicologia Junguiana, p.ex. E outros, como Hermínio C. Miranda, em suas várias obras, busca também avançar além dos escritos de Kardec. Todos estes autores, para se ficar apenas entre alguns dos brasileiros, além de vários outros estudiosos e pesquisadores no exterior, têm produzido reflexões e trazidos idéias inovadoras. Mas falta, na minha opinião, um esforço sistemático para incorporar estas idéias à Doutrina, ou então rejeitá-las. Algumas delas tem sido apenas justapostas à Doutrina, como são vários das informações trazidas por André Luiz, sem contudo um esforço sistemático de as integrar metodicamente.

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