sábado, 25 de agosto de 2012

CRIVOS DA RAZÃO – Parte 6: A Falácia do Argumento Contra a Pessoa – 4ª parte

Às vezes, o argumento ad hominem pode também ser provocado ou "chamado" pela própria pessoa. 


Por exemplo, suponhamos que João seja um político recém-eleito para um cargo executivo (prefeito, governador ou presidente). Um dos pontos mais enfatizado por João na sua campanha foi o combate à corrupção, ao desvio do dinheiro público, propondo combater isso com transparência. 

Entretanto, auxiliares do João tem sido flagrados em atos de corrupção,  com fartas evidências. E familiares diretos dele foram envolvidos em situações eticamente duvidosas. João, porém, contra todas as evidências, defende enfaticamente seus auxiliares e familiares, alegando que estão sendo vítimas da oposição ou da mídia mal intencionada. E pressiona sua base de apoio para que inviabilizem quaisquer tentativas de investigação de tais atos e situações.

Tempos depois, João propõe um projeto de lei que analistas questionam técnica e eticamente, indicando evidências de que poderá favorecer mais determinados grupos ligados ao partido do João, do que a população como um todo. Perguntado a respeito, ele dá justificativas, com base em documentos gerados por aqueles que seriam favorecidos, de que o projeto é bom para a população e para o Estado, e pede que confiem nele. 

Quando seus opositores atacarem o projeto de lei na sua concepção e intenções, fortalecendo suas críticas com os fatos relativos a comportamentos questionáveis de João nos episódios com seus familiares e auxiliares, estarão praticando o argumento ad hominem. Neste caso, estarão realmente cometendo uma falácia?

Pessoas, como o João, que praticam o "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço" e outras posições questionáveis (vide, neste sentido CRIVOS DA RAZÃO - Parte 5: A Falácia do Apelo à Autoridade), estão legitimamente sujeitas a que se duvidem de suas intenções, quando propõe uma ideia ou argumentam a favor ou contra algo, ou seja, estão sujeitas ao  argumento ad hominem. Contudo, ainda assim, também é legítimo que suas ideias e posições sejam analisadas objetivamente, pois até um suposto corrupto pode propor boas ideias e argumentos consistentes e válidos.

O mesmo raciocínio vale para comunicações via mediúnica, nas quais o espírito comunicante prega equilíbrio, tolerância e compreensão no relacionamento com nossos próximos, mas mostra radicalismo e intolerância preconceituosa ao se referir a cientistas, por exemplo. Esse também tem sido o comportamento de alguns dirigentes, expositores e escritores espíritas. 

A Ciência é usada por eles quando parece confirmar suas ideias, embora frequentemente estejam errados nisso, porque não compreenderam direito o fato ou a descoberta científica que acham que as "provam" (sobre "provas" científicas, veja O Que É Ciência - parte 1, penúltimo parágrafo e O Que É Ciência - parte 2, último parágrafo). Quando, porém, os fatos e descobertas científicas parecem conflitar com suas ideias, as renegam sumariamente, dizendo que o método científico não é adequado para analisar coisas espirituais. Ora, com este comportamento estão dizendo que o método científico é bom para analisar fatos espirituais quando os confirma, mas ruim no caso contrário. 

Desta forma, para adequarem o conhecimento científico às suas ideias, estão agindo como o mítico bandido Procusto com aqueles a que assaltava. Deitava-os num leito e, naqueles que fossem maiores que este, cortava-lhes um pedaço das pernas. Aos menores, esticava-os até que chegassem ao comprimento do leito.

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