terça-feira, 2 de outubro de 2012

EMBRIÕES CONGELADOS x CÉLULAS-TRONCO: UM ALERTA!


Este texto, do meu amigo Alvaro Vannucci, foi publicado inicialmente em fevereiro de 2005, no Jornal Espírita da FEESP. É um importante alerta sobre possíveis implicações espirituais do congelamento de embriões.
Alvaro é pesquisador espírita, cientista e professor de Física da USP.

  
            Como todos nós sabemos, o corpo humano é constituído por células de diversas espécies que compõem, por exemplo, os ossos, as cartilagens, os nervos, os músculos, etc.; sendo que estas células possuem características diferentes entre si, para poderem executar as tarefas que lhes competem.

            Porém, todas estas células, de diferentes tipos e características, foram formadas a partir de um tipo de célula básica, denominada “célula-tronco”. Logo após a fecundação do óvulo feminino, pelo espermatozóide masculino, ocorre o processo de criação e multiplicação de células-tronco. Com o passar do tempo, estas células-tronco começam a moldar o corpo do embrião em formação, cada uma delas adquirindo as características dos tecidos do órgão e partes do corpo em que se situarão. No momento de nascimento da criança, praticamente todas as células-tronco já se transformaram em células específicas.

            Com o envelhecimento natural do organismo e também com o surgimento de doenças dos mais variados tipos, as células dos nossos órgãos (coração, cérebro, fígado, etc.) vão sendo destruídas e, muitas vezes, não são repostas, acarretando um mal funcionamento de um ou mais órgãos do nosso corpo.

            Porém, pesquisas que vêm sendo realizadas em vários laboratórios e hospitais têm demonstrado que a aplicação de células-tronco em órgãos (ou regiões de órgãos) que haviam sido considerados permanentemente lesados, causa uma rápida e espantosa recuperação dos mesmos. Por exemplo, uma célula-tronco implantada em um coração torna-se uma célula de coração, colocada em um fígado transforma-se em uma célula de fígado, inserida em um cérebro, torna-se uma célula cerebral, e assim por diante. Diante de tal maleabilidade, há mesmo quem acredite que o uso de células-tronco irá revolucionar a medicina moderna, face aos resultados tão promissores que vêm sendo obtidos.

            Este assunto, no entanto, tem levantado questões éticas muito importantes [1,2] que todas as pessoas, e os espíritas em particular, não podem deixar de discutir e de tomar uma posição. Aliás, os espíritas, por aceitarem o princípio de reencarnação e por possuírem informações valiosas vindas do mundo espiritual, constituem-se talvez no segmento ao qual maior responsabilidade cabe em querer esclarecer a presente situação.

            As células-tronco utilizadas nos experimentos em andamento são retiradas, basicamente: 1) da medula óssea do paciente, 2) da placenta e cordão umbilical de recém nascidos e 3) de embriões humanos.

            Enquanto o uso de células-tronco retiradas de medulas ósseas e placenta/cordão umbilical nos parece plenamente aceitável, o uso de embriões humanos – mesmo para fins terapêuticos – constitui-se em um procedimento extremamente grave com conseqüências que podem ser extremamente perigosas. Isto porque, pelo que se sabe até o momento, nada parece diferenciar um embrião que foi artificialmente fecundado in vitro daquele fecundado no ventre materno, de forma natural. Desta forma, a principal questão é: frente à possibilidade de haver Espíritos ligados aos embriões congelados, podemos tomar a decisão de aniquilar estas vidas embrionárias para curar - ou mesmo possivelmente salvar - uma outra? Porém há quem defenda enfaticamente a utilização de células-tronco de embriões humanos para estudos científicos. O argumento principal destas pessoas, dentre elas uma quantidade muito grande de cientistas, é que os embriões a serem utilizados já existem e, se não forem aproveitados desta maneira “racional”, simplesmente serão descartados, jogados no lixo!

            Chegamos então ao ponto crucial do presente artigo. As clínicas de fertilização artificial usualmente mantêm, ao longo de vários anos, dezenas de milhares de embriões congelados, sendo que a imensa maioria, de fato, não será utilizada! Este número enorme de embriões será, literalmente, jogado fora, no lixo! Não poderia esta alternativa de descarte dos embriões constituir-se numa prática totalmente inadequada e desastrosa sob a visão espírita,  em considerando-se que estes embriões possivelmente abrigam vida?

            Em resposta à pergunta 344 de O Livro dos Espíritos , formulada por Allan Kardec [3], os Espíritos respondem: “A união começa na concepção ...”, complementando em seguida, mais especificamente: “... Desde o instante da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico ...” (grifos nossos).

            No livro de André Luiz, “Missionários da Luz”, psicografado pelo médium Francisco Xavier [4], a encarnação de um determinado Espírito é descrita em detalhes, dando a entender que todo o processo de ligação fluídica entre o Espírito e o futuro corpo infantil se estabelece em apenas alguns poucos minutos após a fecundação do óvulo da futura mãe, pelo espermatozóide do futuro pai.

               Perante estas informações, e considerando que a concepção, de fato, ocorre durante o processo de fertilização da célula sexual feminina pela masculina, então é possível concluir que, senão todos, pelo menos uma porcentagem significativa dos embriões que se encontram congelados, aos milhares, nas diversas clínicas de fertilização e hospitais, são vidas. Se concordarmos com esta linha de raciocínio e análise, então teremos que concordar também com a hipótese de que muitos Espíritos encontram-se nesta situação: a de estar esperando – em vão - um útero para lhes dar uma nova oportunidade para vir à luz!

            Em respondendo à Allan Kardec, quando ele formula a pergunta 136-a do “Livro dos Espíritos” [3], os Espíritos afirmam que “... A vida orgânica pode animar um corpo sem alma ...”. Esta frase abre, sim, a possibilidade de que possam existir embriões sem que Espíritos estejam a eles ligados (e esta talvez seja uma possível razão pela qual, atualmente, uma porcentagem muito grande de embriões não sobrevive ao processo de congelamento e posterior descongelamento). No entanto, como alguns embriões sobrevivem ao descongelamento e, após serem implantados no útero materno, acabam gerando o nascimento de crianças (mesmo após terem permanecido vários anos congelados), então: 1) ou aceita-se que a ligação do Espírito pode ocorrer após o processo de divisão celular já ter iniciado (em contradição, portanto, com a resposta da pergunta 344,  que afirma ocorrer a ligação no instante da concepção), ou 2) os Espíritos daquelas crianças permanecem por muitos anos ligados aos respectivos embriões congelados. 

            O ponto fundamental que se pretende discutir aqui, entretanto, não é quanto à escolha do que “seria melhor”; se simplesmente “descartar” estes milhares de embriões (possivelmente milhares de vidas) ou “mais racionalmente” utilizá-los, em suas mortes, para auxiliar outras vidas, aproveitando as suas células-tronco.

            O alerta que queremos deixar aqui é para os casais que procuram os serviços de clínicas de fertilização, permitindo a fecundação de suas células sexuais de forma a gerar estes embriões em quantidade tal, que uma parte sofre o processo de congelamento para futura possível utilização. Muitos destes casais provavelmente agem desta forma sem se aperceberem das reais dimensões do problema. Claro que é totalmente compreensível o anseio e a expectativa destes casais que têm dificuldades em gerar um filho. Porém, frente a este problema dos embriões congelados, não seria talvez o processo de adoção uma alternativa mais ética, mais cristã e mais socialmente aceitável? Por outro lado, se a opção ainda for pela fertilização in vitro,  não seria mais prudente apenas fecundar o número exato de óvulos maternos que se irá utilizar na primeira tentativa de gestação, embora sabendo-se que este procedimento pode significar um custo financeiro adicional ao casal?

            O alerta também se dirige aos médicos e profissionais da saúde que se  encontram  envolvidos com o processo de fecundação e produção de tais embriões, nas diversas clínicas de fertilização e hospitais. Não se estaria cometendo um grande equívoco, a geração possível de milhares de vidas congeladas a espera da morte? Vamos, todos, meditar um pouco mais profundamente sobre esta questão!

Referências
[1] – Universidade Federal do RGS: http://www.bioetica.ufrgs.br/celtron.htm
[2] – Instituto FHC: http://www.ifhc.org.br/pdf/marcozago_3011.pdf
[3] – “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, tradução de J. Herculano Pires.
[4] – “Missionários da Luz”, Francisco C. Xavier/André Luiz, capítulo 13.

2 comentários:

  1. Quanto ao processo de adoção dos embriões congelados, temo que isso possa resultar em comércio de vidas humanas, com tudo o que isso implica - escolha do produto, melhoria do produto, preço... Será que Deus designaria mesmo espíritos para esses óvulos fecundados? E se designasse, não seria tb uma prova? Deveríamos elaborar um novo Livro dos Espíritos com perguntas como essas.

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    1. Olá Monikita,

      Este comércio é um risco que já pode estar ocorrendo... Sobre a ligação de espíritos com esses óvulos fecundados, o próximo artigo do Alvaro, que postarei em breve, trará mais luz sobre essa questão.

      Um abraço!

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