Reflexões sobre os itens 4 e 5, Cap. V, do Evangelho Segundo o Espiritismo.
Todos enfrentamos, durante nossa vida, aflições decorrentes de problemas, decepções, sofrimentos físicos e morais. Quais as causas dessas aflições? Essas causas podem se originar tanto na vida atual, como de vidas anteriores...
Veremos que muitas das nossas aflições são conseqüências de coisas que fizemos ou deixamos de fazer nesta vida. Vamos ver, também, como evitar muitas dessas aflições.
Quantas coisas deixamos por terminar, desde tarefas domésticas, relacionamentos, cursos, projetos, por falta de perseverança!...
Por desorganização, quantos documentos, prazos, compromissos perdemos na nossa vida, desperdiçando oportunidades valiosas... E depois reclamamos da nossa falta de sorte, da falta de oportunidades!
Nas épocas em que temos mais condições, por imprevidência deixamos de guardar dinheiro para os períodos difíceis, e quando estes ocorrem, queixamo-nos da má sorte, e sonhamos soluções mágicas, como ganhar na loteria e coisas parecidas...
Isto ocorre também por não controlarmos nossos desejos e ansiedades: às vezes nos excedemos na comida, na bebida, na direção de veículos, no sexo...
E quando as conseqüências desses excessos surgem mais tarde sob a forma de acidentes, doenças do corpo e da mente, queixamo-nos da má sorte, reclamamos da nossa infelicidade, quando ela foi provocada por nós mesmos...
Por vezes, por vaidade tola, para manter “as aparências”, gastamos dinheiro que não temos, para comprar coisas de que não precisamos, para impressionar pessoas com quem não nos afinamos, para parecermos quem não somos.
Reclamamos que somos infelizes no casamento, mas é possível que tenhamos entrado nessa união por outros motivos que não por uma afinidade de alma com o cônjuge, visando à construção de uma família saudável. Contudo, podemos ainda, se realmente quizermos, desenvolver o amor conjugal e familiar verdadeiros...
Queixamo-nos de nossos filhos, de sua falta de respeito e de sua ingratidão, mas nos esquecemos de quantas vezes deixamos de atuar com amor e firmeza, corrigindo seus erros e más tendências, mostrando-lhes o caminho do bem e fortalecendo suas boas tendências. E assim, com nossa complacência, permitimos que se desenvolvessem neles o orgulho, o egoísmo e a vaidade, que lhes ressecaram o coração.
Por não controlarmos nossa cólera, entramos em disputas, conflitos e brigas improdutivas e desnecessárias, que nos envenenam e aos outros...
E depois nos colocamos como vítimas, acusando o outro de algoz, culpando-o por nossa infelicidade, esquecendo-nos convenientemente do que dissemos e fizemos (ou deixamos de fazer por negligencia ou teimosia) que levou a tais conflitos...
Percebemos, então, que muitas das nossas aflições se devem a nós mesmos... Somos os autores de grande parte nossos de infortúnios atuais!
Mas, evitaremos muitos desses males na medida em que trabalharmos para o nosso adiantamento moral, reformando-nos intimamente, e para o nosso adiantamento intelectual, estudando e aprendendo sempre mais...
A justiça humana alcança algumas faltas e as pune. O condenado pode dizer, então, que sofreu a conseqüência do que fez. Mas a justiça não alcança, nem pode alcançar todas as faltas. Geralmente, ela castiga as que causam prejuízo à sociedade, e não as que prejudicam apenas a nós mesmos...
A Justiça Divina, por sua vez, alcança a todas as faltas, nada lhe escapa... Não há falta, por menor que seja, que escape à lei da ação e reação. Desde faltas mais graves, crimes, até mesmo as pequenas, como se exceder num almoço, com o conseqüente mal-estar posterior, ou numa palavra mais áspera, com conseqüências prejudiciais para o relacionamento e a paz interior.
Contudo, o objetivo da Justiça Divina não é punir, fazendo-nos sofrer, para que “paguemos” pelo mal que fizemos a nós e a outros, mas nos ensinar, de maneira que este aprendizado fique profundamente gravado em nosso espírito, para que não o esqueçamos tanto no presente como no futuro.
Para isto, não basta apenas compreendermos racionalmente as conseqüências para nós e para os outros do que fizemos de errado. Isto é necessário, mas não é suficiente. Precisamos sentir de fato, de coração, que erramos, percebendo as conseqüências do que fizemos, para que o aprendizado penetre no fundo de nossa alma, modificando-nos. E este aprendizado é provado e reforçado pela reparação dos males que causamos.
Compreender e sentir o que fizemos de errado, e repará-lo, se possível para quem causamos algum mal. Quando isto não for possível, ajudarmos outras pessoas a superar males semelhantes, pois, como escreveu o apóstolo Pedro em sua 1ª epístola (cap. 4, versículo 7), “o amor cobre a multidão dos pecados”.
Este aprendizado pode surgir, entretanto, um pouco tarde, quando muito da nossa vida já foi desperdiçada e perturbada... Podemos pensar, então: “Se no começo da vida eu soubesse o que sei agora, quantas faltas teria evitado!... Se eu tivesse que recomeçar, eu teria me portado de maneira diferente. Mas não há mais tempo!”...
Como o trabalhador negligente que diz “perdi o meu dia”, cada um de nós que despertamos tarde para a Lei Divina, dirá “perdi a minha vida”... Mas, assim como para o trabalhador o sol nasce no dia seguinte, e começa uma nova jornada na qual pode recuperar o tempo perdido, para nós também brilha o sol de novas oportunidades a cada dia, que podemos aproveitar... Lembremo-nos de que, “embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim” (Chico Xavier).
É difícil fazermos isto sozinhos. Mas, ao elevarmos nossos pensamentos e sentimentos a Deus, numa oração sincera, no íntimo de nosso coração, pedindo forças e compreensão para colocarmos em prática nossos bons propósitos, esta força e esta compreensão nos virá... Nunca estamos sozinhos... O Plano Espiritual sempre nos acompanha e vela por nós!
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