Khristós (Cristo em português) que significa ungido (untado em óleo - parte importante do ritual de escolha e consagração dos reis judeus) - é a palavra grega usada, desde a Antiguidade, para traduzir o termo hebraico Māšîaḥ (traduzido em português por Messias). É o título dado a Jesus. Contudo, prefiro usar o nome Jesus que ajuda a me aproximar mais do amado Mestre, pois o título Cristo tem, para mim, uma conotação muito formal.
Acho que devemos sentir Jesus vivenciando seus ensinamentos na prática do dia-a-dia, e procurando senti-lo junto de nossa alma nos momentos tristes e alegres de nossa vida.
Jesus sintetiza seus ensinamentos nos dois maiores mandamentos (Mt 22:34-40):
“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas.”
Amar a Deus, Jesus nos ensina, traduz-se por amar ao próximo como a nós mesmos (“E o segundo, semelhante a este...”). Analisando este mandamento, percebe-se que Jesus exorta-nos não a amarmos ao próximo mais do que a nós mesmos, nem menos, mas igualmente. Ocorre-me a analogia da balança: se estiver pendendo muito para nós, poderemos estar sendo egoístas demais, pouco sensíveis aos nossos próximos. Caso esteja pendendo demais para o próximo, poderemos estar nos alienando de nós mesmos.
A alienação em relação a si mesmo pode, em casos extremos, significar um transtorno de personalidade. Por exemplo, no Transtorno de Personalidade Dependente (F60.7 da CID-10), a pessoa se aliena tanto de si mesma que tem muita dificuldade em tomar decisões pessoais sozinha, subordinando suas necessidades às das pessoas que a cercam, tendo grande dificuldade em dizer não às demandas de outras pessoas, mesmo quando abusivas. E este não é um transtorno raro, principalmente entre as mulheres.
Mas, como ficam os verdadeiros mártires e heróis que se sacrificam pelo próximo, por vezes dando até sua própria vida? As pessoas que realizam tais atos, quando realmente conscientes e maduras, parecem ter alcançado um patamar superior de espiritualidade, superando a si mesmos (“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá sua vida por seus amigos” - Jo 15:13). Mas são poucos. Muitos dos “mártires” e “heróis” parecem cometer seus atos por desespero, fantasiando que, com isto, alcançarão um ilusório “céu”.
Outras pessoas se sacrificam diariamente por seus filhos e/ou demais familiares. Quando este sacrifício é maduro, consciente, não alienado, a pessoa normalmente não se queixa, encarando estoicamente as dores e problemas decorrentes. Ao contrário, as pessoas que se dizem sacrificar, mas estão fazendo isto de maneira imatura, pouco consciente, reclamam disto constantemente, porém não conseguem se libertar daquilo que, para elas, é servidão. Este não é, a meu ver, o amor pregado por Jesus. Elas parecem não amar adequadamente a si, nem a estes próximos aos quais se “sacrificam”.
O amor da pessoa que ama maduramente é alegre, não choramingão; corajoso, mas não inconseqüente. Tal pessoa ouve realmente os problemas do próximo e o ajuda, não tentando se livrar o mais rapidamente possível de os ouvir, como é o caso de muitos que, diante de um problema apresentado por alguém, buscam rápido sacar um conselho “otimista”, antes de entender de fato qual é o problema e sem realmente acolher este próximo. A pessoa que ama maduramente acolhe realmente o próximo, mas de maneira equilibrada, sem se afundar junto com o outro no problema, num “abraço de afogado”, mas o ajudando a se reequilibrar e, se possível, a encontrar uma solução ou, pelo menos, colocar-se numa atitude mais favorável para ser ajudado por pessoas neste plano e pelo plano espiritual.
Por outro lado, Jesus não é apenas uma figura histórica ou bíblica. Para o vivenciarmos e senti-lo precisamos ir além da compreensão intelectual, “porque a letra mata, mas o Espírito vivifica”, como escreveu Paulo de Tarso (II Coríntios 3:6). Jesus, para os que nele crêem, é uma realidade viva!
Quando frustrados, inseguros, tristes ou nos sentindo sós, ao fazermos um esforço de nos elevar, pensando com fé em Jesus, sua imagem iluminada dissolverá nossos pensamentos negativos, reequilibrando-nos, incultindo-nos novas esperanças e paciência. Mas, também é importante pensarmos nele agradecidos, quando alegres, felizes, bem sucedidos em nossos bons objetivos.
Às vezes, ligarmo-nos com Jesus é difícil, quase impossível. Mas o problema, nestes casos, está conosco, pois o Mestre do Amor, da Paz e da Luz é como um sol que irradia constantemente, e cujos efeitos sentimos mesmo nos dias encobertos e à noite. Até mais do que o sol: onde quer que estejamos, por mais escuro e escondido em que seja o lugar onde nos encontramos, da maneira que estivermos, poderemos nos conectar a Jesus. Nestes momentos mais difíceis, quando atravessamos o “vale das sombras” (Salmos 22:4), quando o amanhecer parece estar muito distante e até duvidamos que o sol possa surgir novamente, precisamos insistir, fazer como a viúva na parábola do juiz iníquo (Lc 18:1-7). Se perseverarmos, a presença de Jesus se fará em nosso espírito, iluminando-nos como o sol, quando as nuvens se abrem num dia cinzento, renovando nossa esperança e fortalecendo nossa fé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário