sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

10 Atitudes para Criar Filhos Mais Felizes - 3a. Atitude: Habilidades do Relacionamento

       "Habilidades do relacionamento. Aqueles que mantem uma relação saudável com o cônjuge ou com outras pessoas importantes em sua vida demonstram a importância de manter relações afetivas verdadeiras."


       Robert Epstein comenta esta atitude: "Manter uma relação conturbada com o cônjuge pode ser muito prejudicial; é importante que os pequenos presenciem gestos de respeito, perdão, cuidado e carinho". Cito novamente aqui a sábia frase de Aurélio Agostinho (Sto. Agostinho): "a palavra convence, mas o exemplo arrasta". Não adianta muito pregarmos respeito, perdão, carinho, cuidado, se nosso comportamento mostra o oposto. Nossas palavras poderão ser lembradas por nossos filhos, mas nossas ações do dia-a-dia é que eles absorverão de fato.


       No relacionamento entre pessoas em geral e, é claro, entre cônjuges, os conflitos podem ser inevitáveis e até legítimos. Como as pessoas envolvidas lidam com os conflitos é o que diferencia uma relação saudável de uma relação problemática. Uma classificação simples, prática e bem atual de como as pessoas lidam com os conflitos interpessoais foi desenvolvida por Lawrence, Weisbord e Charns na década de 70. Subjacente aos cinco modos básicos de se lidar com conflitos descritos pelos autores é a idéia de que nenhum dos modos é adequado a todas as ocasiões e pessoas. Cada um deles pode ser eficaz, dependendo da situação, embora eu seja da opinião que, numa relação conjugal, alguns modos tendem a ser mais saudáveis do que outros:



Impor. Aquele que tem mais poder impõe a sua solução ao conflito. Em algumas situações, este modo de lidar com um conflito de opiniões pode ser o mais saudável. Desde que não seja a 1a. opção (a não ser numa situação perigosa e urgente), mas quando outros modos já fracassaram. Contudo, na relação marido-mulher, o uso freqüente da imposição tanto pelo homem, como pela mulher tende a ser desastroso... Se no momento parece funcionar, poderá ter conseqüências ruins mais tarde e ser fonte de mais conflitos, num círculo vicioso que degrada cada vez mais o relacionamento, caso não seja quebrado.


       Amaciar. As pessoas envolvidas fingem que não há conflito ou minimizam sua importância. Este modo pode ser saudável em algumas situações. Alguns conflitos de opiniões são, de fato, falsos conflitos. Podem surgir, por exemplo, porque um dos cônjuges está irritado, ansioso, frustrado ou com alguma dor física e quer (conscientemente ou não) provocar uma briga para descarregar suas tensões. Nesses casos, o mais saudável para ambos pode ser fazer o oposto do que o outro espera, ou seja, não entrar no "jogo de cartas marcadas" no qual ambos perderão, vença quem "vencer". 
       Exemplos de  fazer o oposto do que é esperado podem ser: uma autocrítica bem humorada; um elogio sincero ao cônjuge; ouvi-lo(a) calmamente sem contestar, mas manifestando concordância com o que considera legítimo nas colocações dele ou dela; fazer algo que o(a) distraia da questão; enfim, há várias maneiras de se "amaciar" um conflito. Entretanto, o uso demasiado deste modo pode também ser desastroso, porque evita que o casal encare de frente alguns problemas que deveriam ser admitidos como tais e resolvidos explicitamente, e não escamoteados, para que a relação da família como um todo evolua saudavelmente.
       
       Evitar. Evitar situações nas quais o conflito possa surgir. Exemplos: evitar tocar em assuntos que já se sabe ser origens de discussões improdutivas; ou, quando por necessidade, tocar nesses assuntos, utilizar de muita diplomacia; omitir informações ou opiniões que possam provocar discussões; evitar comportamentos que possam levar a conflitos; evitar responder às provocações do cônjuge. Uma boa técnica para evitar responder às provocações é a da "água da paz" do Chico (vejam a postagem "A Água da Paz - uma maneira eficaz de evitar discussões improdutivas", em http://novoaprendendoeensinando.blogspot.com/2010/12/agua-da-paz-uma-maneira-eficaz-de.html). 
       Embora o modo "evitar" seja útil e saudável em muitas ocasiões, se usado demasiadamente tende a levar o casal a deixar de lado questões que deveriam ser tratadas clara e diretamente, para que a relação se mantenha saudável. O hábito de frequentemente evitar ou amaciar conflitos pode fazer com que diferenças cresçam e "fermentem" na sombra do relacionamento, podendo explodir em momentos inesperados, levar a depressões, ou a sintomas físicos de origem emocional, chamados de somatoformes (dores crônicas de cabeça, dores generalizadas no corpo, alguns tipos de cardiopatias e de doenças no sistema digestivo, entre outras). Por outro lado, conflitos não resolvidos e não tratados entre os pais podem atingir os filhos de duas formas: 
       - diretamente, por exemplo, quando um dos pais "descarrega" a tensão do conflito reprimido sobre os filhos, explodindo "sem razão";
       - indiretamente, quando um dos pais (ou ambos) fazem ataques velados ao outro (o que chamamos em psicologia de comportamentos passivo-agressivos), por meio de indiretas, comentários irônicos ou até sarcásticos, ou freqüentes expressões faciais de enfado, pouco caso, desprezo, desânimo, tristeza. As crianças, mesmo muito pequenas, captam o tom ou as atitudes passivo-agressivas ou de desânimo e aprendem a se comportar da mesma maneira, quando tais comportamentos nos pais são habituais.


       Barganhar. Neste modo, as causas reais do problema não são enfocadas, mas busca-se um modus vivendi, isto é, uma acomodação na disputa para permitir a vida em conjunto. Para algumas questões e circunstâncias, este modo pode ser saudável, mas não para todas as questões e situações. A vantagem é que o conflito foi admitido e tentou-se fazer algo a respeito. A solução pode durar, porém as causas não desapareceram, e dependendo de quão importante é a questão para o casal ou venha se tornar mais tarde, o conflito voltará e suas causas precisarão ser encaradas e resolvidas de alguma maneira...


       Confrontar. Na cultura brasileira este termo usado pelos autores é agressivo, mas no contexto cultural em que foi usado tem o sentido de "abrir o jogo", "colocar todas as cartas na mesa", isto é, abrir todas as informações sobre a questão que está perturbando uma ou ambas as partes. Isto inclui não apenas os fatos, mas também os sentimentos que estes têm despertado. Contudo, o objetivo neste modo de lidar com conflitos não é a busca do culpado, mas sim enfocar as causas e se buscar uma solução que as elimine ou neutralize e que seja satisfatória para ambos. Nem sempre isto é fácil, em algumas situações e momentos pode até ser impraticável. Mas é o mais saudável para o casal e para os filhos, os quais, além de ganharem um ambiente familiar mais aberto e descontraído, também aprendem, com os pais que praticam com freqüência este modo, algo que os ajudará a lidar mais saudavelmente com conflitos em suas vidas.
       Este último modo parece ser a recomendação de Jesus quando ele diz: "se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente: se te ouvir terá ganho teu irmão" (Mt 18:15). Traduzindo para a linguagem da nossa época, entendo "repreender" no sentido de confrontar, como exposto acima. Mas, antes de confrontar seu cônjuge, é bom lembrar de fazer a autocrítica que Jesus enfatiza, para identificar sua própria responsabilidade no problema: "Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu?" (Mt 7:3).

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