Este texto, do meu amigo Alvaro Vannucci, foi publicado inicialmente em fevereiro de 2005, no Jornal Espírita da FEESP. É um importante alerta sobre possíveis implicações espirituais do congelamento de embriões.
Alvaro é pesquisador espírita, cientista e professor de Física da USP.
Como
todos nós sabemos, o corpo humano é constituído por células de diversas
espécies que compõem, por exemplo, os ossos, as cartilagens, os nervos, os
músculos, etc.; sendo que estas células possuem características diferentes
entre si, para poderem executar as tarefas que lhes competem.
Porém,
todas estas células, de diferentes tipos e características, foram formadas a
partir de um tipo de célula básica, denominada “célula-tronco”. Logo após
a fecundação do óvulo feminino, pelo espermatozóide masculino, ocorre o
processo de criação e multiplicação de células-tronco. Com o passar do tempo,
estas células-tronco começam a moldar o corpo do embrião em formação, cada uma
delas adquirindo as características dos tecidos do órgão e partes do corpo em
que se situarão. No momento de nascimento da criança, praticamente todas as
células-tronco já se transformaram em células específicas.
Com o
envelhecimento natural do organismo e também com o surgimento de doenças dos
mais variados tipos, as células dos nossos órgãos (coração, cérebro, fígado,
etc.) vão sendo destruídas e, muitas vezes, não são repostas, acarretando um
mal funcionamento de um ou mais órgãos do nosso corpo.
Porém,
pesquisas que vêm sendo realizadas em vários laboratórios e hospitais têm
demonstrado que a aplicação de células-tronco em órgãos (ou regiões de órgãos)
que haviam sido considerados permanentemente lesados, causa uma rápida e
espantosa recuperação dos mesmos. Por exemplo, uma célula-tronco implantada em
um coração torna-se uma célula de coração, colocada em um fígado transforma-se
em uma célula de fígado, inserida em um cérebro, torna-se uma célula cerebral,
e assim por diante. Diante de tal maleabilidade, há mesmo quem acredite que o
uso de células-tronco irá revolucionar a medicina moderna, face aos resultados
tão promissores que vêm sendo obtidos.
Este
assunto, no entanto, tem levantado questões éticas muito importantes [1,2] que
todas as pessoas, e os espíritas em particular, não podem deixar de discutir e
de tomar uma posição. Aliás, os espíritas, por aceitarem o princípio de
reencarnação e por possuírem informações valiosas vindas do mundo espiritual,
constituem-se talvez no segmento ao qual maior responsabilidade cabe em querer
esclarecer a presente situação.
As
células-tronco utilizadas nos experimentos em andamento são retiradas,
basicamente: 1) da medula óssea do paciente, 2) da placenta e cordão umbilical
de recém nascidos e 3) de embriões humanos.
Enquanto
o uso de células-tronco retiradas de medulas ósseas e placenta/cordão umbilical
nos parece plenamente aceitável, o uso de embriões humanos – mesmo para fins
terapêuticos – constitui-se em um procedimento extremamente grave com
conseqüências que podem ser extremamente perigosas. Isto porque, pelo que se
sabe até o momento, nada parece diferenciar um embrião que foi artificialmente
fecundado in vitro daquele fecundado
no ventre materno, de forma natural. Desta forma, a principal questão é: frente
à possibilidade de haver Espíritos ligados aos embriões congelados, podemos
tomar a decisão de aniquilar estas vidas embrionárias para curar - ou mesmo
possivelmente salvar - uma outra? Porém há quem defenda enfaticamente a
utilização de células-tronco de embriões humanos para estudos científicos. O
argumento principal destas pessoas, dentre elas uma quantidade muito grande de
cientistas, é que os embriões a serem utilizados já existem e, se não forem
aproveitados desta maneira “racional”, simplesmente serão descartados, jogados
no lixo!
Chegamos
então ao ponto crucial do presente artigo. As clínicas de fertilização
artificial usualmente mantêm, ao longo de vários anos, dezenas de milhares de
embriões congelados, sendo que a imensa maioria, de fato, não será utilizada!
Este número enorme de embriões será, literalmente, jogado fora, no lixo! Não
poderia esta alternativa de descarte dos embriões constituir-se numa prática
totalmente inadequada e desastrosa sob a visão espírita, em considerando-se que estes embriões
possivelmente abrigam vida?
Em
resposta à pergunta 344 de O Livro dos
Espíritos , formulada por Allan Kardec [3], os Espíritos respondem: “A
união começa na concepção ...”, complementando em seguida, mais
especificamente: “... Desde o instante da concepção, o Espírito
designado para habitar certo corpo a
este se liga por um laço fluídico ...” (grifos nossos).
No
livro de André Luiz, “Missionários da Luz”,
psicografado pelo médium Francisco Xavier [4], a encarnação de um determinado
Espírito é descrita em detalhes, dando a entender que todo o processo de
ligação fluídica entre o Espírito e o futuro corpo infantil se estabelece em
apenas alguns poucos minutos após a fecundação do óvulo da futura mãe, pelo
espermatozóide do futuro pai.
Perante estas informações, e considerando que
a concepção, de fato, ocorre durante o processo de fertilização da célula
sexual feminina pela masculina, então é possível concluir que, senão todos,
pelo menos uma porcentagem significativa dos embriões que se encontram
congelados, aos milhares, nas diversas clínicas de fertilização e hospitais, são
vidas. Se concordarmos com esta linha de raciocínio e análise, então
teremos que concordar também com a hipótese de que muitos Espíritos encontram-se
nesta situação: a de estar esperando – em vão - um útero para lhes dar uma nova oportunidade para vir à luz!
Em
respondendo à Allan Kardec, quando ele formula a pergunta 136-a do “Livro dos
Espíritos” [3], os Espíritos afirmam que “...
A vida orgânica pode animar um corpo sem
alma ...”. Esta frase abre, sim, a possibilidade de que possam existir
embriões sem que Espíritos estejam a eles ligados (e esta talvez seja uma
possível razão pela qual, atualmente, uma porcentagem muito grande de embriões
não sobrevive ao processo de congelamento e posterior descongelamento). No
entanto, como alguns embriões sobrevivem ao descongelamento e, após serem
implantados no útero materno, acabam gerando o nascimento de crianças (mesmo
após terem permanecido vários anos congelados), então: 1) ou aceita-se que a
ligação do Espírito pode ocorrer após o processo de divisão celular
já ter iniciado (em contradição, portanto, com a resposta da pergunta 344, que afirma ocorrer a ligação no
instante da concepção), ou 2) os Espíritos daquelas crianças permanecem por
muitos anos ligados aos respectivos embriões congelados.
O ponto
fundamental que se pretende discutir aqui, entretanto, não é quanto à escolha
do que “seria melhor”; se simplesmente “descartar” estes milhares de embriões (possivelmente
milhares de vidas) ou “mais
racionalmente” utilizá-los, em suas mortes, para auxiliar outras vidas,
aproveitando as suas células-tronco.
O
alerta que queremos deixar aqui é para os casais que procuram os serviços de
clínicas de fertilização, permitindo a fecundação de suas células sexuais de
forma a gerar estes embriões em quantidade tal, que uma parte sofre o processo
de congelamento para futura possível utilização. Muitos destes casais
provavelmente agem desta forma sem se aperceberem das reais dimensões do
problema. Claro que é totalmente compreensível o anseio e a expectativa destes
casais que têm dificuldades em gerar um filho. Porém, frente a este problema dos
embriões congelados, não seria
talvez o processo de adoção uma alternativa
mais ética, mais cristã e mais socialmente aceitável? Por outro lado, se a
opção ainda for pela fertilização in vitro, não seria mais prudente apenas fecundar o número exato de óvulos maternos que
se irá utilizar na primeira tentativa de gestação, embora sabendo-se que este
procedimento pode significar um custo financeiro adicional ao casal?
O
alerta também se dirige aos médicos e profissionais da saúde que se encontram envolvidos com o processo de fecundação e
produção de tais embriões, nas diversas clínicas de fertilização e hospitais.
Não se estaria cometendo um grande equívoco, a geração possível de milhares de
vidas congeladas a espera da morte? Vamos,
todos, meditar um pouco mais profundamente sobre esta questão!
Referências
[1] – Universidade Federal do RGS: http://www.bioetica.ufrgs.br/celtron.htm
[2] – Instituto FHC: http://www.ifhc.org.br/pdf/marcozago_3011.pdf
[3] – “O Livro
dos Espíritos”, Allan Kardec, tradução de J. Herculano Pires.
[4] – “Missionários
da Luz”, Francisco C. Xavier/André Luiz, capítulo 13.
Quanto ao processo de adoção dos embriões congelados, temo que isso possa resultar em comércio de vidas humanas, com tudo o que isso implica - escolha do produto, melhoria do produto, preço... Será que Deus designaria mesmo espíritos para esses óvulos fecundados? E se designasse, não seria tb uma prova? Deveríamos elaborar um novo Livro dos Espíritos com perguntas como essas.
ResponderExcluirOlá Monikita,
ExcluirEste comércio é um risco que já pode estar ocorrendo... Sobre a ligação de espíritos com esses óvulos fecundados, o próximo artigo do Alvaro, que postarei em breve, trará mais luz sobre essa questão.
Um abraço!