“Um homem sussurrou: - Deus, fale comigo!
E um rouxinol começou a cantar, mas o homem não ouviu.
Então o homem repetiu: - Deus, fale comigo!
E um trovão ecoou nos céus, mas o homem foi incapaz de ouvir.
O homem olhou em volta e disse: - Deus, deixe-me vê-lo!
E uma estrela brilhou no céu, mas o homem não a notou.
O homem começou a gritar: - Deus, mostre-me um milagre!
E uma criança nasceu, mas o homem não sentiu o pulsar da vida.
Então o homem começou a chorar e a se desesperar:
- Deus, toque-me e deixe-me sentir que você está aqui comigo...
E uma borboleta pousou suavemente em seu ombro.
O homem espantou a borboleta com a mão e desiludido
Continuou o seu caminho triste, sozinho e com medo.”
(do livro “By San Etioy” - tradução e adaptação de uma prece dos índios Cherokees).
Deus fala conosco de várias formas, pelos fenômenos naturais, pelos animais, acontecimentos da vida e pessoas. Para ouvi-lo, precisamos estar receptivos em nosso coração, pois "só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos", lembra-nos Saint-Exupéry1.
Você já parou para contemplar o brilho das gotas da chuva nas folhas das árvores ou na grama, ao cair da tarde? Parecem gotas de ouro, ou de brilhante líquido! Ou olhou de verdade para um jardim florido, observando cada detalhe, percebendo os mil brilhos e nuances coloridos das flores e do verde, impossíveis de serem reproduzidas artificialmente e que, se você se estiver tranqüilo e receptivo para isto, parecem inundar a sua alma?
Estarmos em sintonia com Deus é estarmos receptivos para ouvir essas mensagens divinas que nos vem através das pessoas, das crianças, do céu, do cheiro de terra molhada pela chuva e até, por exemplo, das pequenas plantinhas que nascem nas fendas das calçadas. A despeito do sol inclemente sobre elas, das pisadas descuidadas dos passantes, de todos os fatores que podem matá-las, elas crescem, às vezes morrem, mas renascem! Esta força vital que as impulsiona é a Chama Divina que há também em nós e impulsiona constantemente (se permitirmos, se estivermos receptivos a Ela) para crescermos, evoluirmos, realizarmos nosso potencial, nossa felicidade!
Experimente sorrir para um bebê, uma criança, e verá que ela espontaneamente lhe devolverá um belo sorriso como resposta. Por vezes, em momentos em que estamos angustiados ou preocupados, este sorriso parece vir para nós como uma lufada de ar fresco num ambiente abafado e poluído.
Em algumas ocasiões, quando estamos ansiosos com um problema, o simples fato de alguém nos ouvir com simpatia e interesse pode nos aliviar, dando-nos forças para enfrentá-lo. Em outras ocasiões, um sorriso de simpatia ou uma palavra amiga, tranqüila e equilibrada, pode ser decisiva para nos ajudar a reencontrar nosso eixo interior e, assim, tomarmos uma melhor decisão frente ao problema que nos angustia. Nestes momentos, Deus está falando conosco através de seus mensageiros ocasionais. Não significa que estas pessoas que nos ajudam nestas ocasiões aflitivas sejam santos. Possivelmente têm muitos problemas e defeitos, como nós. Mas, naquele exato momento foram, para nós, mensageiros divinos, anjos2, portanto.
Cada um de nós, também, com palavras, sorrisos, gestos, ou mesmo apenas ouvindo com empatia, pode ajudar alguém que está necessitando, em algumas ocasiões. Para isto, basta estarmos sensíveis aos nossos próximos, mas também equilibrados, para ajudarmos sensatamente, com empatia, ou seja, sem nos envolvermos, para que assim contribuamos de fato para a pessoa encontrar uma boa solução ao seu problema e não o piorarmos. Nestas ocasiões, estaremos atuando para essas pessoas como anjos, mensageiros divinos.
Deus está em todas as coisas e pessoas e em nós mesmos. Na Índia, há um cumprimento que as pessoas fazem-se umas às outras, o “namastê”, que consiste em se colocar as mãos postas como numa oração, próximas ao peito e inclinar a cabeça para a outra pessoa. Ao fazer isto, a pessoa que cumprimenta está reverenciando o Deus interno que está na outra pessoa, como está em cada um de nós.
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1 Antoine de Saint-Exupéry, nascido em Lyon, França, em 29/06/1900 e falecido em 1944 (local ignorado). Aviador por profissão e escritor por paixão, é considerado um dos grandes ficcionistas franceses do século XX. Foi um dos pioneiros da aviação comercial francesa, tendo organizado as linhas da Patagônia e empreendido vôos de Paris à Saigon e de New York à Terra do Fogo, numa época em que voar, principalmente para locais distantes, era um feito heróico. Atuou de maneira intensa durante a 2ª Guerra Mundial, unindo-se à aviação Aliada em 1942. Seu livro mais conhecido é “O Pequeno Príncipe”, de onde vem a frase citada neste artigo.
2 Anjo: do Latim Eclesiástico ângelus, derivado do Grego Antigo άγγελος (ángelos): mensageiro.
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